terça-feira, 26 de outubro de 2010

Indócil...


Hoje eu acordei indócil como são as fêmeas que clamam pelo sêmen semântico. Das que querem beber o líquido quente e viscoso que o verbo derrama no ventre da poesia. Indócil de energia represada, desse ardor inclemente, da vontade da palavra molhada pregada na língua do poeta. (E essa intimação para o passeio lúbrico entre as frestas). Indócil e fácil, súbita e assumidamente oferecida. Daquelas que se despem salivando penetrâncias. Crestada como flor ao sol enxugando-se do orvalho. Planta carnívora, cigana balançando a saia na dança dos Orixás. Suor íntimo de mar, um cheiro fresco de mato. Banho de rosas vermelhas, rescendências de almíscar, sinfonia de gemidos. Indócil de tanta força entre as pernas, predadora consumindo a presa entre as coxas. (Cravo as minhas unhas na tua cor de canela).

Dispenso pontes, despeço pudores, despisto a distância
E atravesso a nado o rio que abraçou nosso saveiro.
Porque hoje eu acordei indócil dessa vontade de tê-lo...

(Marla de Queiroz)

sábado, 23 de outubro de 2010


Vou viajar, porque é verão, porque é tarde demais e eu quero ver, Rever, transver, milver tudo que não vi e ainda mais do que já vivi...

(Caio Fernando Abreu)

sábado, 16 de outubro de 2010




Antônio não parecia prestes a dizer nada. Gabriela não diria; se pudesse escolher, teria ficado calada, mas lhe escapou: “Meu coração tá ferido de amar errado. De amar demais, de querer demais, de viver demais. 

Amar, querer e viver tanto que tudo o mais em volta parece pouco.”

(Caio Fernando Abreu)



sexta-feira, 8 de outubro de 2010


Ah, Passarinho, para de voar assim, sozinho.
Pousa aqui no meu ombro, e me faz porto pra tua morada. 
Eu também quero assim, juntinhos, abraçados no ninho, 
Repousando todo o nosso amor.

Nós dois, tão pequenos, diante dessa imensidão azul...

(Laís Angeiras)

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Das surpresas...



“Você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente”.

(Caio Fernando Abreu)