Sabendo que havia quebrado um entendimento que ia além das palavras, ela sussurrou, sem jeito e cabisbaixa, um singelo pedido de desculpas esperando não mais que educação. Ele então a encarou nos olhos, seu semblante profundo e tênue. Tinha nas mãos uma folha de papel. Silenciou por alguns instantes e por fim falou, com tristeza.
— Qualquer relacionamento é como esta folha. Quando nós nos decepcionamos a folha é amassada.
Então, sorrateiramente, ele espremeu a pequena folha entre suas mãos, e continuou dizendo...
— Agora eu peço que tente desamassá-la. Você vai perceber que as marcas continuam e que a folha já não será mais a mesma. Assim aconteceu conosco.
Ela agora tinha os olhos banhados por lágrimas. A tristeza a elegeu para ser fonte de orvalho naquele momento.* Tinha a certeza de que a situação fugira de seu controle, como água escorrendo nos dedos, fugindo em direção ao mar.
Ele levantou e, dando as costas, seguiu andando. Foi quando de súbito um fio de esperança lhe apareceu, e ela gritou com a voz embargada.
— Sabe a folha amassada? Eu te darei outra nova, limpa, em branco. Mas você precisa aceitar escrever comigo novamente, você precisa querer, precisa se permitir, nos permitir...
Ele virou para ela e sorriu com o canto da boca. E no coração daquela garota ela acreditou, com todas as suas forças, que aquilo seria um sim...
Aquarela na cor azul...
(Laís Angeiras)
*Trecho da invejável Marla de Queiroz.
Retalho de uma conversa com uma pessoa mais que especial.