sexta-feira, 25 de junho de 2010

Só quem se mostra se encontra...


"Eu sou da geração do desbunde.
Nunca tive saco pra milico, desfile, gente com medo.
Todo mundo ficava parado, mudo, anestesiado.
Não dava pra fingir que não tinha nada.
Pra mudar alguma coisa, a gente teve que gritar, se drogar.
Ir pra rua, enfrentar nossa própria fraqueza.
Era uma maneira de não se render, e não ficar careca... Careta."

(Meu grande Cajú, meu poeta rebelde)

terça-feira, 22 de junho de 2010


Abandono-me calma entre os lençóis.
E o corpo nu e intransigente,
não quer a ninguém, só esse estado
de deslizar tranquilo, quase inapetente.

Celebro a solitude que me traz sossego.
E tramo os meus dias em papel de seda azul:
“Amanhã comprarei frutas doces,
E incenso de lavanda”,
penso enquanto acaricio o meu corpo nu.

E nada me tocará não seja a música
Nem me bolinará não seja o verso.
Amanhã talvez eu queira outra coisa,
Hoje estou apenas para mim:
Completamente nua,
Absolutamente Una com o Universo.

(Marla de Queiroz)

sexta-feira, 18 de junho de 2010

"Entre as aleluias e agonias de ser."


Tudo é mistério fundo de flor e agonias. Eu me preparei para receber a primavera e caminhei pela cidade com frio, braços cruzados - eu tinha apenas a mim mesma para abraçar. E na expectativa de flores nascendo subitamente pelos caminhos, só consegui perceber o espreguiçar de uma tristeza adormecida. Mas nada machucava, apenas doía: uma tristeza se impunha saudável naquele guache laranja do entardecer. A melancolia mais bonita. E uma dor quentinha como um raio de sol que cega a alegria para iluminar outras inspirações. Eu me preparei para a chegada de uma determinada primavera semântica, mas só conseguia lembrar do meu poeminho antigo: Quando setembro flor-ido, primavirá o verão.

(Marla de Queiroz)

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Texto dispensa título.



"Fiquei tão só, aos poucos. Fui afastando essas gentes assim menores, e não ficaram muitas outras. Às vezes, nos fins de semana principalmente, tiro o telefone do gancho e escuto, para ver se foi cortado...

Não foi."

terça-feira, 15 de junho de 2010

Do desejo maior...


Até que um dia por astúcia ou acaso, depois de quase todos os enganos ela descobriu a porta do labirinto. Nada de ir tateando os muros como um cego. Nada de muros. Seus passos tinham – enfim! – a liberdade de traçar seus próprios labirintos.

(Mário Quintana)

segunda-feira, 14 de junho de 2010

"Devia ser sábado, passava da meia noite...


 Ele sorriu para mim. E perguntou:
— Você vai para a Liberdade?
— Não, eu vou para o Paraíso.
Ele sentou-se ao meu lado. E disse:
— Então eu irei com você."

sábado, 12 de junho de 2010

No cais acorava o amor...

Já era tarde quando nos encontramos na praia, decidimos andar e enquanto isso, ríamos ao compartilhar histórias pessoais, acontecimentos da época de criança e escola. Não distante avistamos aquele cais tão popular e que como nós já havia vivenciado diversas situações e guardava um infinito baú de lembranças.

— O cais! Vem comigo, você vai adorar... - segurei sua mão e rindo, começamos a correr em direção ao local como crianças que sentem a liberdade pela primeira vez.

No horizonte, o sol já tocava o mar e por mais que eu tentasse, não conseguia deixar de admirar seus olhos verdes. O cabelo negro, indefeso há muito já havia se entregado à leve brisa que soprava. Sorríamos juntos, seu sorriso transmitia alegria, que era propagada para o interior de minh'alma.

Estávamos sentados ali, apenas nós dois a contemplar o pôr do sol e o som do quebrar das ondas. trocamos olhares e a breve calmaria foi interrompida por um beijo, o mais doce e memorável da minha vida. Talvez não tenhamos percebido, mas esse foi o momento em que nos apaixonamos.

Seu cheiro, seu riso, sua voz... nada disso escapava da minha mente. Ela então roubou da minha boca as palavras.

— Eu não consigo explicar o que estou sentindo agora, mas uma coisa é certa: Só em você eu encontro minha paz. Gostaria de ficar aqui com você, assim, por todo o sempre.

Dito isso, repousou a cabeça em meu ombro e me abraçou forte, um abraço de quem buscou por muito tempo um porto para o seu coração e finalmente, após tantas dificuldades e tormentas havia ancorado.

"E eu sei
que o cais vai testemunhar
um romance aqui,
um romance lá,
mas não vai esquecer
de nós dois...
Não vai, não vai."


E esse texto lindo veio da pessoa mais linda do mundo: MEU tortuguita.
Morram de inveja, porque ele é só MEU! Haha.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Como uma mulher...


Chegou no apartamento dele por volta das seis da tarde e sentia um nervosismo fora do comum. Antes de entrar, pensou mais uma vez no que estava por fazer. Seria sua primeira vez. Já havia roído as unhas de ambas as mãos. Não podia mais voltar atrás. Tocou a campainha e ele, ansioso do outro lado da porta, não levou mais do que dois segundos para atender.


Ele perguntou se ela queria beber alguma coisa, ela não quis. Ele perguntou se ela queria sentar, ela recusou. Ele perguntou o que poderia fazer por ela. A resposta: sem preliminares. Quero que você me escute, simplesmente.

Então ela começou a se despir como nunca havia feito antes.

Primeiro tirou a máscara: 
— Eu tenho feito de conta que você não me interessa muito, mas não é verdade. Você é a pessoa mais especial que já conheci. Não por ser bonito ou por pensar como eu sobre tantas coisas, mas por algo maior e mais profundo do que aparência e afinidade. Ser correspondida é o que menos me importa no momento: preciso dizer o que sinto.

Então ela desfez-se da arrogância: 
— Nem sei com que pernas cheguei até sua casa, achei que não teria coragem. Mas agora que estou aqui, preciso que você saiba que cada música que toca é com você que ouço, cada palavra que leio é com você que reparto, cada deslumbramento que tenho é com você que sinto. Você está entranhado no que sou, virou parte da minha história.

Era o pudor sendo desabotoado: 
— Eu beijo espelhos, abraço almofadas, faço carinho em mim mesma tendo você no pensamento, e mesmo quando as coisas que faço são menos importantes, como ler uma revista ou lavar uma meia, é em sua companhia que estou.

Retirava o medo: 
— Eu não sou melhor ou pior do que ninguém, sou apenas alguém que está aprendendo a lidar com o amor, sinto que ele existe, sinto que é forte e sinto que é aquilo que todos procuram. Encontrei.

Por fim, a última peça caía, deixando-a nua.
— Eu gostaria de viver com você, mas não foi por isso que vim. A intenção é unicamente deixá-lo saber que é amado e deixá-lo pensar a respeito, que amor não é coisa que se retribua de imediato, apenas para ser gentil. Se um dia eu for amada do mesmo modo por você, me avise que eu volto, e a gente recomeça de onde parou, paramos aqui.

E saiu do apartamento sentindo-se mais mulher do que nunca.

(Martha Medeiros)

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Do querer...


"Com a concha das mãos faz  o que sempre fez no mar, e com a altivez dos que nunca darão explicação nem a eles mesmos: com a conha nas mãos cheias de água, bebe em goles grandes, bons. E era isso que lhe estava faltando: o mar por dentro como o líquido espesso de um homem." 
(Onde estivestes de noite - Clarice Lispector)

domingo, 6 de junho de 2010

Das carnes...

Abro as pernas e as palavras se contraem: tua língua se apropria do meu texto, tua fala sempre tão bem dita. Fecho os olhos: teu poema me penetra, nossas palavras gemem, a poesia grita. Mas eu guardo em segredo minhas frases mais aflitas. (Pelo menos dessa vez não vou deixar que o meu medo te pareça abandono. Pelo menos dessa vez não vou supervalorizar nossa história que é apenas tão bonita.) Vou deixar que se enfie em mim com dedos, membro, língua e malícia. E o teu corpo, meu tutor, se apropriar do meu sem dono, num abraço pélvico escorregadio, num enroscamento longo qual novelo de delícias. Nem importa mais se a nossa música já não toca, que nos toque em silêncio essa carícia. (Marla de Queiroz)



quinta-feira, 3 de junho de 2010

Carmim


Trago um cigarro
Abro aquela velha garrafa de vinho
Que deixaste da ultima noite
Olho no espelho e não me reconheço
Batom carmim, colo desnudo
Lágrimas desfazendo o rosto da boneca
Ainda a esperar a porta se abrir
O perfume invadindo a sala
Tomando-me pela cintura
Invadindo a boca em um beijo quente
Manchando a pele branca de carmim
Rasgando o vestido vermelho de cetim
Feito fera ferida
Vinga-se em meu corpo
Berros e gritos insanos
Mistura de ódio e desejo
Paixão ordinária
Que chega devastando
Entorpecendo e sugando
Meu sangue, meu ar
Pelos poros arranca-me
Todas as forças
Gritos e gemidos abafados
Pele vermelha
Revelando a possessão
Ardendo a carne tremula
Embriagada de sangue
Adormece sobre a mesa
Em meio a taças, restos de vinho
E cigarros baratos.




Um retalho:
— Mas eu não quero só isso, eu quero algo mais...
— Algo mais, então.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Entre por esta porta agora...


Então me vens e me chegas e me invades e me tomas e me pedes e me perdes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para libertar novas histórias e outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e assim calado, e assim submisso, te mastigo dentro de mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza deixando claro em cada promessa que jamais será cumprida, que nada devo esperar além dessa máscara colorida, que me queres assim porque é assim que és...

À beira do mar aberto.

(Os dragões não conhecem o paraíso - C.F.A.)

terça-feira, 1 de junho de 2010

Hello, stranger...

À todos que procuram um rosto para amar nos olhares desconhecidos da metrópole...

E pra quem sente solidão a dois, solidão solidão ou simplesmente solidão. Ninguém por perto, por mais perto que esteja...




And so it is, most of the time.