quarta-feira, 29 de dezembro de 2010



Eu sou mesmo assim
Meio louca e quase poeta.
Não sou alegre e nem triste
E nem tão pouco, pouco...
Eu sou muito do tudo,
E de tudo o nada.
(...)
Eu sou um coração vadio
À procura de aventuras,
Que ao mesmo tempo quer
O mundo, e na mesma hora
Não quer nada!

terça-feira, 21 de dezembro de 2010


(...) Nunca notou que mulheres como eu não são fáceis de se ter. São como flores difíceis de cultivar. Flores que você precisa sempre cuidar, mas que homens que gostam de praticidade não conseguem. Homens que gostam das coisas simples. Eu não sou simples, nunca fui. Mas sempre quis ser sua. Você, meu homem, é que não soube cuidar. E nessa de cuidar, vou cuidar de mim. De mim, do meu coração e dessa minha mania de amar demais, de querer demais, de esperar demais. Dessa minha mania tão boba de amar errado.

 Seja feliz.


(C. F. A.)

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010



Nada jamais fora tão acordado como seu corpo sem transpiração e seus olhos-diamante, e de vibração parada. E o Deus? Não. Nem mesmo a angustia. O peito vazio, sem contração. 

Não havia grito.

(Clarice Lispector)

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010


Eu preciso aprender a ser menos. Menos dramática. Menos intensa. Menos exagerada. Alguém já desejou isso na vida: ser menos? Pois é. Estranho. Mas eu preciso. Nesse minuto, nesse segundo, por favor, me bloqueie o coração, me cale o pensamento, me dê uma droga forte para tranqüilizar a alma. Porque eu preciso. E preciso muito. Eu preciso diminuir o ritmo, abaixar o volume, andar na velocidade permitida, não atropelar quem chega, não tropeçar em mim mesma. Eu preciso respirar. Me aperte o pause, me deixe em stand by, eu não dou conta do meu coração que quer muito. Eu preciso desatar o nó. Eu preciso sentir menos, sonhar menos, amar menos, sofrer menos ainda. Aonde está a placa de PARE bem no meio da minha frase? Confesso: eu não consigo. Nada em mim pára, nada em mim é morno, nada é pouco, não existe sinal vermelho no meu caminho que se abre e me chama. E eu vou... Com o coração na mochila, o lápis borrado, o sorriso e a dúvida, a coragem e o medo, mas vou... Não digo: "estou indo", não digo: "daqui a pouco", nada tem hora a não ser agora. Existe aí algum remedinho para não-sentir? Existe alguma terapia, acupuntura, pedras, cores e aromas para me calar a alma e deixar mudo o pensamento? Quer saber? Existe. Existe e eu preciso...
Preciso e não quero.

(Fernanda Mello)

segunda-feira, 29 de novembro de 2010




Uma pressa, uma urgência. E uma compulsão horrível de quebrar imediatamente qualquer relação bonita que mal comece a acontecer... 


Destruir antes que cresça.

(Caio Fernando Abreu)

sábado, 27 de novembro de 2010

Fim.


Chega de reticências.
Ficar esperando.
Sofrendo.
Contando saudades.
Se o amor não é possível, o melhor é colocar um fim.

E ponto.

(Fernanda Mello)

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Para um passarinho com medo de voar...


Ah, Passarinho, não precisa temer, você não está sozinho
Dispense as precauções, desarme seu coração.
A gente aprende a voar assim, juntinhos. 
Nós dois, saltando do ninho, mergunhando nessa imensidão azul.

E o caminho da volta, a gente descobre na hora de voltar...

domingo, 21 de novembro de 2010

Sou marinheiro


 Iria embora hoje mesmo. Pra algum lugar, não sei onde. Sempre tive uma alma exploradora e sedenta de liberdade. Navegar longe de portos seguros. Pegar os ventos da aventura em minhas velas. Eu posso retornar a terra firme, mas renuncio abrindo a janela do meu convés dia-a-dia. Quero beber de todas as águas que a vida me permitir. Experimentar, ousar, sonhar é viver. Tenho um par de asas e uma montanha de descobertas pra fazer a escalada. E sorte minha que vim ao mundo assim. Nasci marinheiro nesse mar de sentimentos.

"Um navio no porto está seguro, mas não foi pra isso que navios foram feitos..."
(Laís Angeiras)

sexta-feira, 12 de novembro de 2010


Isso não é homenagem àqueles que amam, 
Mas um luto aqueles que desmerecem corações...

(Deslucro)

sábado, 6 de novembro de 2010

Ritual





Aí está ele, o mar, o mais ininteligível das existências não humanas. E aqui está a mulher, de pé na praia, o mais ininteligível dos seres vivos. Como o ser humano fez um dia uma pergunta sobre si mesmo, tornou-se o mais ininteligível dos seres vivos. Ela e o mar.

Só poderia haver um encontro de seus mistérios se um se entregasse ao outro: a entrega de dois mundos incognoscíveis feita com a confiança com que se entregariam duas compreensões.

Ela olha o mar, é o que se pode fazer. Ele só lhe é delimitado pela linha do horizonte, isto é, pela sua incapacidade humana de ver a curvatura da terra.

São seis horas da manhã. Só um cão livre hesita na praia, um cão negro. Por que é que um cão é tão livre? Porque ele é o mistério vivo que não se indaga. A mulher hesita porque vai entrar.

Seu corpo se consola com sua própria exigüidade em relação a vastidão do mar porque é a exigüidade do corpo que o permite manter-se quente e é essa exigüidade que a torna livre gente, com sua parte de liberdade de cão nas areias. Esse corpo entrará no ilimitado frio que sem raiva ruge no silêncio das seis horas. A mulher não está sabendo: mas está cumprindo uma coragem. 

Com a praia vazia nessa hora da manhã, ela não tem o exemplo de outros humanos que transformam a entrada no mar em simples jogo leviano de viver. Ela está sozinha. O mar salgado não é sozinho porque é salgado e grande, e isso é uma realização. Nessa hora ela se conhece menos ainda do que conhece o mar. Sua coragem é a de, não se conhecendo, no entanto prosseguir. É fatal não se conhecer, e não se conhecer exige coragem.

Vai entrando. A água salgada é de um frio que lhe arrepia em ritual as pernas. Mas uma alegria fatal - a alegria é uma fatalidade - já a tomou, embora nem lhe ocorrera sorrir. Pelo contrário, está muito séria. O cheiro é de uma maresia tonteante que a desperta de seus mais adormecidos sonos seculares. E agora ela está alerta, mesmo sem pensar, como um caçador está alerta, mesmo sem pensar. A mulher é agora uma compacta e uma leve e uma aguda - e abre caminho na gelidez que, líquida, se opõe a ela, e no entanto a deixa entrar, como no amor em que a oposição pode ser um pedido.

O caminho lento aumenta a coragem secreta. E de repente ela se deixa cobrir pela primeira onda. O sal, o iodo, tudo líquido, deixam-na por uns instantes cega, toda escorrendo - espantada de pé, fertilizada.

Agora o frio se transformou em frígido. Avançando, ela abre o mar pelo meio. Já não precisa da coragem, agora já é antiga no ritual. Abaixa a cabeça dentro do brilho do mar e retira uma cabeleira que sai escorrendo toda sobre os olhos salgados que ardem. Brinca com a mão na água, pausada, os cabelos ao sol quase imediatamente já estão endurecendo de sal. Com a concha das mãos faz o que sempre fez no mar, e com altivez dos que nunca darão explicação nem a eles mesmos: com a concha das mãos cheia de água, bebe em goles grandes, bons.

E era isso o que estava lhe faltando: o mar por dentro como o líquido espesso de um homem. Agora está toda igual a si mesma. A garganta alimentada se constringe com o sal, os olhos avermelham-se pelo sal secado pelo sol, as ondas suaves lhe batem e voltam pois ela é um anteparo compacto. Mergulha de novo, de novo bebe mais água, agora sem sofreguidão pois não precisa mais. 

Ela é a amante que sabe que terá tudo de novo. O sol se abre mais e arrepia-a ao secá-la, ela mergulha de novo: está cada vez menos sôfrega e menos aguda. Agora sabe o que quer. Quer ficar de pé parada no mar. Assim fica pois. Como contra os costados de um navio, a água bate, volta, bate. A mulher não recebe transmissões. Não precisa de comunicação.

Depois caminha dentro da água de volta à praia. Não está caminhando sobre as águas - ah, nunca faria isso depois que há milênios já andaram sobre as águas - mas ninguém lhe tira isso: caminhar dentro das águas. Às vezes o mar lhe impõe resistência puxando-a com força para trás, mas então a proa da mulher avança um pouco mais dura e áspera.

E agora pisa na areia. Sabe que está brilhando de água, e sal e sol. Mesmo que o esqueça daqui a uns minutos, nunca poderá perder tudo isso. E sabe de algum modo obscuro que seus cabelos escorridos são de náufrago. Porque sabe - sabe que fez um perigo. Um perigo tão antigo quanto o ser humano...

(Clarice Lispector, in Felicidade Clandestina)

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Previsão...



A previsão é que o dia caia repentinamente sobre o mar e que a noite chegue na hora mais perfumada do meu corpo: naquele momento em que tudo em mim é a certeza de um sorriso seu colado ao meu rosto e que tudo em você é a certeza do meu mais definitivo e sonoro sim! A previsão é que tenhamos no amor essa certeza: de um abrigo de paz, desse aconchego sem fim...

(Marla de Queiroz)

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Indócil...


Hoje eu acordei indócil como são as fêmeas que clamam pelo sêmen semântico. Das que querem beber o líquido quente e viscoso que o verbo derrama no ventre da poesia. Indócil de energia represada, desse ardor inclemente, da vontade da palavra molhada pregada na língua do poeta. (E essa intimação para o passeio lúbrico entre as frestas). Indócil e fácil, súbita e assumidamente oferecida. Daquelas que se despem salivando penetrâncias. Crestada como flor ao sol enxugando-se do orvalho. Planta carnívora, cigana balançando a saia na dança dos Orixás. Suor íntimo de mar, um cheiro fresco de mato. Banho de rosas vermelhas, rescendências de almíscar, sinfonia de gemidos. Indócil de tanta força entre as pernas, predadora consumindo a presa entre as coxas. (Cravo as minhas unhas na tua cor de canela).

Dispenso pontes, despeço pudores, despisto a distância
E atravesso a nado o rio que abraçou nosso saveiro.
Porque hoje eu acordei indócil dessa vontade de tê-lo...

(Marla de Queiroz)

sábado, 23 de outubro de 2010


Vou viajar, porque é verão, porque é tarde demais e eu quero ver, Rever, transver, milver tudo que não vi e ainda mais do que já vivi...

(Caio Fernando Abreu)

sábado, 16 de outubro de 2010




Antônio não parecia prestes a dizer nada. Gabriela não diria; se pudesse escolher, teria ficado calada, mas lhe escapou: “Meu coração tá ferido de amar errado. De amar demais, de querer demais, de viver demais. 

Amar, querer e viver tanto que tudo o mais em volta parece pouco.”

(Caio Fernando Abreu)



sexta-feira, 8 de outubro de 2010


Ah, Passarinho, para de voar assim, sozinho.
Pousa aqui no meu ombro, e me faz porto pra tua morada. 
Eu também quero assim, juntinhos, abraçados no ninho, 
Repousando todo o nosso amor.

Nós dois, tão pequenos, diante dessa imensidão azul...

(Laís Angeiras)

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Das surpresas...



“Você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente”.

(Caio Fernando Abreu)

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Das seduções...


Mais uma vez vou te chamar, gritar teu nome, só pra ver teu rosto me procurando pelas ruas da cidade, desesperado, sedento do meu cheiro, minha presença, minha malícia. Vou perturbar teus sonos, me impondo em seus pensamentos durante a madrugada. Vou te fazer revirar pelos lençóis relembrando pêlos, boca, cabelos. Sussurro em teu ouvido, enlouqueço sua cabeça, faço charme, me insinuo e vou embora. Você sabe, meu bem, a boa moça que nunca fui. Eu gosto assim: seduzir e esnobar.

Exigir café quente só pra deixar esfriar...
 
(Laís Angeiras)

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Dos mares da vida...


Flor entre os cabelos, olhos cor-de-mel, sardas no rosto e um sorriso de estrelas. Lá estava ela, à beira do mar aberto, tão em comunhão com aquele lugar. Ao seu lado aproximou-se um homem alto, cabelos castanhos, barba no rosto e olhos de céu.

Você sabe que esse mar de possibilidades a sua frente são tão solúveis quanto algodão doce. Não se angustie com o tamanho do vazio que seu coração habita neste momento. Afinal, liberdade é que a ausência de certezas. Essa é a hora de aprender a nadar. De pegar o bonde errado e voltar pra tentar outro caminho. Ouse. Este mar aí, e apontou para frente, é todo seu: Descubra-o.

Ela olhou para o lado, os olhos cheios de fogo, seu corpo fervilhando em pura vontade de sentir e disse:

Deve-se cultivar, a todo custo, as flores de dentro.

E mergulhou com roupa e tudo no mar infinito da vida...

(Laís Angeiras)

domingo, 12 de setembro de 2010

Do papel da vida...



Sabendo que havia quebrado um entendimento que ia além das palavras, ela sussurrou, sem jeito e cabisbaixa, um singelo pedido de desculpas esperando não mais que educação. Ele então a encarou nos olhos, seu semblante profundo e tênue. Tinha nas mãos uma folha de papel. Silenciou por alguns instantes e por fim falou, com tristeza.

Qualquer relacionamento é como esta folha. Quando nós nos decepcionamos a folha é amassada.

Então, sorrateiramente, ele espremeu a pequena folha entre suas mãos, e continuou dizendo...

Agora eu peço que tente desamassá-la. Você vai perceber que as marcas continuam e que a folha já não será mais a mesma. Assim aconteceu conosco.

Ela agora tinha os olhos banhados por lágrimas. A tristeza a elegeu para ser fonte de orvalho naquele momento.* Tinha a certeza de que a situação fugira de seu controle, como água escorrendo nos dedos, fugindo em direção ao mar.

Ele levantou e, dando as costas, seguiu andando. Foi quando de súbito um fio de esperança lhe apareceu, e ela gritou com a voz embargada.

Sabe a folha amassada? Eu te darei outra nova, limpa, em branco. Mas você precisa aceitar escrever comigo novamente, você precisa querer, precisa se permitir, nos permitir...

Ele virou para ela e sorriu com o canto da boca. E no coração daquela garota ela acreditou, com todas as suas forças, que aquilo seria um sim...

Aquarela na cor azul...

(Laís Angeiras)
*Trecho da invejável Marla de Queiroz.

Retalho de uma conversa com uma pessoa mais que especial.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Da vivência...



Entenda, Helena, que o pra sempre existe, mas não é todo dia. Aprenda que a beleza da vida, minha flor, é a certeza de que a morte chega adiante. Então deixe esta cadeira, tire a poeira dos livros, abra as janelas de dentro, que o tempo consome. Deixe o sol entrar e esquentar a casa, a vida, o coração... 

(Laís Angeiras)

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Mentiras sinceras me interessam...



Eu quero que você invada, não bata na porta, nem seja educado. Se aposse, devore, envolva. Me acabe, me mostre. Como quem bebe em goles grandes de euforia. Não fale nada, somente possua. Sem restrições, sem medos. Deixando claro em cada gesto a euforia correndo pelas veias, dilacerando, florescendo no prazer. E só então, quando a excitação acabar, susurre no meu ouvido, baixinho, só pra disfarçar, que você me ama, infinito e profundo, e talvez eu corra o risco de acreditar...

(Laís Angeiras)

domingo, 5 de setembro de 2010

Boas novas...


Poetas e loucos aos poucos
Cantores do porvir
E mágicos das frases
Endiabradas sem mel
Trago boas novas
Bobagens num papel
Balões incendiados
Coisas que caem do céu
Sem mais nem porquê...
(Cazuza)




quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Descoberta


Sai, que já não te quero mais
Sai, porque hoje eu descobri
Que posso viver sem ti
Que posso viver em paz
Muito bem sem teu amor
Sai, porque agora eu sou
Um homem bem mais feliz
Um homem bem mais feliz

Vai, que hoje a lágrima não cai
Sei agora o mal que faz
Dar amor a quem não ama
Dar amor a quem só traz
Ódio e desilusão
Que maltrata um coração
Precisando de carinho
Precisando de carinho

Minha amada
Não consigo mais viver ao lado teu
Não consigo mais te dar o meu amor
Hoje vivo muito bem sem tua boca
E sozinho não conheço mais a dor

(Marcelo Camelo)

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

"Existe sempre alguma coisa ausente...."


É que a saudade me abraça e embala o meu sono. Aqui deitada vou fingindo viver o que já nem sei. Pedaços de sonhos, fragmentos, retalhos das minhas ilusões. Nada me completa, e tudo soa num vazio constante. A ausência latente de não-sei-oque borbulhando no meu peito. E mais um dia, um dia, um dia...
(Laís Angeiras)

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

"Eu tive que ficar quieta no meu canto...


...toda lacerada pela falta. Foi um período solitário em que vivi o luto necessário. Ele nem desconfiou que eu também estava triste, talvez se sentisse melhor se soubesse. Mas eu tinha que fazer valer minha palavra, demorei muito tempo tomando coragem. Demorei muito tempo desparafusando aquela gaiola e, depois, reaprendendo a voar. 
Tive ímpetos de escrever uma carta falando das qualidades dele, de tudo que havia me feito crescer. Mas quando fui escrever só consegui dizer: desculpe, não se pode negociar com a paixão. Porque eu também não entendo às vezes esses caminhos que a vida tece. E nós que morávamos um no outro, ficamos sem casa.  Perdoe a falta de abrigo, é que agora eu moro no caminho."
(Marla de Queiroz)





sábado, 21 de agosto de 2010

Das coisas da vida...

O que foi vivido mudará.
O que não foi vivido perturbará.
Todo adeus será covarde.

(Fabrício Carpinejar)

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Das asas de dentro...

Que importa a rota?
Voa e canta,
Enquanto resistirem as asas.


(Menoquia del Pichia)

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

"Pra abraçar o universo é necessário ter os braços vazios"


"Houve um momento em que o aperto foi tão extremo e aflitivo que eu imaginei não conseguir suportar. Eu nem sabia que, exatamente naquele ponto, a natureza tecia asas para mim, em silêncio, mas foi lá que senti que eu era feita também para voar. O aperto, entendi somente depois, era uma espécie de morte, um prenúncio da transformação, uma ponte que me levaria a outro modo de ser."
(Ana Jácomo)

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

domingo, 15 de agosto de 2010

Do bem-querer...



Roubou uma flor do canteiro do vizinho e continuou trocando os passos. Se o amanhã chegar e não trazer o que meus sonhos imaginam, mal-me-quer, ainda assim continuarei a busca dos meus desejos, bem-me-quer, e se o coração apertar com a angustia dos que pensam em desistir, mal-me-quer, fecharei os olhos e lembrarei da lua que um dia você me deu, bem-me-quer, se eu virar para os lados e não te enxergar, mal-me-quer, olharei para frente e focarei na minha subida, bem-me-quer. E olha só, “eu sou aquela que fez a escalada da vida recolhendo pedras e plantando flores...”

E saiu arrancando as pétalas que restavam, sentindo-se mais forte que nunca...

(Laís Angeiras)

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Solar

 
"(...) Também planta girassóis e se alguém lhe perguntasse por que, certamente explicaria, sacudindo as muitas pulseiras de ouro, que é nativa-do-signo-de-Leão-e-os-leoninos-precisam-do-sol-em-todas-as-suas-forças."

(Caio Fernando Abreu)

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

É preciso coragem...

 Uma coragem danada.
Muita coragem é o que eu preciso.
Sinto-me tão desamparada, preciso tanto de proteção…
Porque parece que sou portadora de uma coisa muito pesada. 
Sei lá...

(Clarice Lispector)

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

— Tá fresquinho — ela serviu o café.


— Agora só consigo dormir depois de tomar café.
— A senhora não devia. Café tira o sono.
Ela sacudiu os ombros:
— Dane-se. Comigo sempre foi tudo ao contrário.

(Caio Fernando Abreu)

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Há muito tempo me perdoei...

 
 
Me aceito impura, me gosto com pecados, e há muito me perdoei. Meu mundo se resume a palavras que me perfuram, a canções que me comovem, a paixões que já nem lembro, a perguntas sem respostas, a respostas que não me servem, à constante perseguição do que ainda não sei. Meu mundo se resume ao encontro do que é terra e fogo dentro de mim, onde não me enxergo, mas me sinto.  
 
Minto, tenho tudo a ver com explosões.
 
(Martha Medeiros)
 

sábado, 7 de agosto de 2010

— Bom dia, disse a raposa...



— Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.

(...)

— Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...
— Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.
— Ah! desculpa, disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
— Que quer dizer "cativar"?

(...)

— É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços".
— Criar laços?
— Exatamente, disse a raposa. Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim o único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...

(...)

— Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...
A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:
— Por favor... cativa-me disse ela.

(...)

— A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
— Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.
— É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...
No dia seguinte o principezinho voltou.
— Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso ritos.

(...)

Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
— Ah ! Eu vou chorar.
— A culpa é tua, disse o principezinho, eu não te queria fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse ...
— Quis, disse a raposa.
— Mas tu vais chorar ! disse o principezinho.
— Vou, disse a raposa.
— Então, não sais lucrando nada !
— Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.

(...)

— Adeus, disse ele...
— Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
— O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
— Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.
— Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
— Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...
— Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.